Distimia: o que é.
Distimia: depressão crônica confundida com mau humor ou “tolerância zero”.
Quem não conhece ou já conviveu com uma pessoa cujo humor era cronicamente irritável e irônico, excessivamente crítico, pontuados por crises de raiva e pouca impaciência? Pior, o sujeito que está ao seu lado além desses predicativos é um pessimista nato e não tem senso de humor. Não está triste, mas também nunca aparenta estar bem, feliz ou satisfeito. Não gosta muito de sociabilizar, está sempre no seu canto, com aquela cara de “azedo”.
Não pense que isso faz parte apenas de um traço de personalidade, hereditariedade passional do sangue latino, ou é uma consequência de criação “das antigas”. Ou ainda, que você deu o azar de casar-se com a pessoa mais chata do mundo. Muito menos que a pessoa é assim porque é chefe. Para muitos, todo chefe, por definição, é estressado, crítico e mau humorado. Ok, essas possibilidades existem e acontecem. Assédio moral é cada vez mais debatido nas Corporações e na Justiça justamente porque ele é desencadeante de graves consequências emocionais, morais e financeiras.
Saiba que mau humor e irritabilidade persistentes podem ser características de uma doença comum, chamada Distimia. Esta doença acomete inúmeros indivíduos, num grau muito maior do que as pessoas supõem. Segundo, GJ Ballone, a Distimia, por conceito, é uma depressão crônica, que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias e por no mínimo de 2 anos. É considerada de baixa intensidade, flutuante, porém duradoura e persistente. A sintomatologia na maioria dos casos é semelhante ao Episódio ou Transtorno Depressivo Maior Recorrente como: desânimo, angustia, ansiedade, desinteresse e apatia, tendência à tristeza, memória prejudicada, dificuldade no relacionamento (autoestima) e na adaptação ambiental, insônia e choro fácil. Porém, ela não é tão grave ou intensa quanto a depressão comum.

A característica essencial do Transtorno Distímico é um humor cronicamente deprimido, que leva os indivíduos a se definirem como tristes ou "na fossa".
Não se queixam propriamente de tristeza, mas de falta de alegria de viver. A vida é mais difícil de suportar. As mágoas e as frustrações são ruminadas por longo tempo e revividas com intensidade e sofrimento. Momentos felizes são fugazes e esquecidas com rapidez. Para os que convivem com os portadores de depressão crônica, eles passam a imagem de arredios, fechados e socialmente isolados, ou então, de mal humorados, amargos, irônicos e implicantes.
Em alguns casos são rabugentos, exigentes, queixosos e sarcásticos. Ou seja, o distímico é aquele sujeito já caricato e explorado pelos humoristas como sendo o famoso “tolerância zero”. E como é fácil nos antipatizarmos por esse tipo de criatura, não é mesmo?
O que as pessoas não imaginam, é que quem sofre deste mal está num prolongado estado de sofrimento psíquico, muitas vezes, ignorado até pela própria pessoa porque os sintomas desta doença os acompanham, muito provavelmente, insidiosamente desde a infância ou a adolescência.

A cronificação dos sintomas certamente influencia no desenvolvimento de um comportamento e uma concepção existencial deturpada pelo mau humor crônico e tristeza, inclusive de si, pois se veem como desinteressantes ou incapazes. Às vezes possuem consciência que são maçantes e sofrem por isso, no entanto, não sabem ser diferentes. Faltam-lhes ferramentas psíquicas e emocionais adequadas para modificar o comportamento. O que os levam, ainda mais, ao isolamento social.
A pessoa que sofre de depressão crônica consegue trabalhar, justamente porque ela é de baixa intensidade, apesar de persistente e duradoura. Em geral é rígida e resistente quanto às sugestões de terapia, por achar que na verdade “esse é seu jeito de ser, coisa de personalidade ou criação”. Portanto, não há nada de errado consigo. Consegue executar suas tarefas com maior desgaste de energia devido ao grande esforço em não esmorecer diante das dificuldades. São momentos como esses e diante de estresses, que a irritabilidade, a agressividade e o mau humor afloram substancialmente. A família sofre, os colegas de trabalho se incomodam com sua destemperança e os amigos se afastam do convívio. O isolamento social acaba sendo um caminho defensivo para lidar com as consequências de seu comportamento.
Outros sintomas psicossomáticos e físicos como as queixas digestivas, as cardiocirculatórias, as musculares e as dores de cabeça aparecem. Diante de um evento estressor, aumenta o risco de desenvolver a Depressão Maior. Nestes casos, o funcionamento social e o rendimento profissional caem significativamente. Razão que normalmente leva o indivíduo, depois muito sofrimento, a procurar ajuda. Primeiro a médica, depois a psicológica.
Dados interessantes para esclarecer sobre a Distimia:
- É mais frequente em mulheres do que nos homens.
- Em crianças, nas quais os fenômenos depressivos se apresentam de forma atípica, o Transtorno Distímico pode estar associado com Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade.
- O Transtorno Distímico é mais comum entre os parentes biológicos em primeiro grau de pessoas com Transtorno Depressivo Maior (ou Transtorno Depressivo Recorrente, pela CID.10) do que na população geral.
- O Transtorno Distímico tem um curso crônico, insidioso e precoce, iniciando-se comumente na infância, adolescência ou início da idade adulta.
- As pessoas com Transtorno Distímico em geral têm uma probabilidade maior para desenvolver um Transtorno Depressivo Maior sobreposto à Distimia.
Tratamento psicoterápico:
Os antidepressivos são eficazes no tratamento da Distimia a curto prazo. Mas, sem a psicoterapia o comportamento e a forma de pensar não mudam. Ela é de fundamental importância no tratamento do distímico. Os objetivos principais dela são fazer o paciente reconhecer as circunstâncias que o levaram à depressão (psicoterapia profunda) e a estruturar uma resposta emocional adequada e não patogênica. Saber reconhecer e nomear ações positivas, em detrimento às negativas aumenta a probabilidade de ocorrência de respostas novas e funcionais. Em outras palavras, combatem-se os comportamentos problemas ao mesmo tempo que busca-se instalar e aumentar a frequência de comportamentos adequados ao contexto, que sejam desejáveis, funcionais e geradores de satisfação.
Fonte para informação e consulta: Ballone, GJ - Distimia, in. PsiqWeb, Psiquiatria Geral, disponível na Internet em http://www.psiqweb.med.br/, 2011.
Marque uma consulta, terei o maior prazer em ouví-lo (a) e esclarecer as dúvidas pertinentes ao seu processo de cura terapeutica.
MSc. Estela Noronha
Psicóloga Clínica
CRP: 06/52562-9