A melhor vingança é viver bem!
A melhor vingança é viver bem!
Os grandes momentos da nossa vida são aqueles em que temos a coragem de rebatizar a nossa maldade como o melhor que em nós existe.
Friedrick Nietzsche.
A vingança é um sentimento tão natural, quanto é o amor, a raiva, a gratidão, o medo, a alegria, a tristeza e o ódio. Relatado desde os primórdios da humanidade, a vingança é amplamente descrita no Velho Testamento, nas mitologias e nos contos de fadas. Na atualidade, as novelas são palcos fartos desta manifestação. A vingança do ponto de vista psicanalítico é uma forma de defesa instintiva, portanto, não seria necessariamente um sentimento negativo. Diante de um sentimento de injustiça ou de ações inesperadas e cruéis, o indivíduo reage porque precisa se sentir em ação, ou melhor, em oposição a alguém que foi percebido como cruel. Por isso, a ética da vingança é tão calorosamente debatida na filosofia, seja por seu caráter social ou biológico. Acredita-se que, todo ser humano possui mecanismos de retaliação quando se ressente de alguma coisa ofensiva ou agressiva; ou mesmo quando se sente em perigo e injustiçado.
Do ponto de vista da psicologia analítica junguiana, encontramos com a nossa sombra pessoal quando inexplicavelmente sentimos aversão ou vontade de vingança por alguém. É quando o sentimento “apodera-se” da pessoa, principalmente daquelas que trazem na sua história ou no seu inconsciente, situações sombriamente encobertas. Deste ponto em diante é um “problemão” pelo viés da psicologia.

Torna-se, nestes casos, um sentimento de reparação distorcido e nocivo, que prende o indivíduo num passado, muitas vezes, sem fim. Sim, porque mesmo que a pessoa consiga realizar seu intento vingativo e sinta prazer imediato com o resultado, o alvo do seu intento continua preso a sua mente, como um inquilino indesejado que sempre lhe causará problemas.
Alguém te difamou? Um bêbado bateu no seu carro? O que fazer? Uma pessoa vingativa pode pensará: “olho por olho, dente por dente” ou ainda, “experimente do próprio veneno para ver como é bom”. Consequência: no final da batalha haverá um bando de cegos banguelas e intoxicados, se estapeando no escuro. E pior, ainda mais rancorosos. O desejo de vingança, na maioria dos casos, é proporcionalmente maior que a agressão inicial sofrida. O vingativo quer destruir ou fazer o outro sofrer constantemente. Não há uma reparação suficiente, nem apaziguamento para esse sentimento, em vista.
E o que pode acontecer psicologicamente com quem é possuído por esse “espírito vingativo”?
Alguns cenários prováveis:
1.Desenvolvimento de um pensamento corrosivo que leva o indivíduo a ruminar incessantemente a mesma história. Imagine um ratinho preso numa gaiola com roda, correndo sempre no mesmo lugar. É assim que o pensamento corrosivo atua. Ele paralisa quem sofre com o sentimento no tempo e no espaço. Você torna-se seu próprio carcereiro. Tem a chave da gaiola, mas não consegue sair dela.
2.O objeto de sua vingança torna-se sua obsessão e acaba por ocupar um importante, mas imerecido lugar dentro de você. Cria-se uma fixação sobre o outro, uma dependência dele, e também, uma entrega de uma parte da própria identidade. Aquele que odeia, que sente necessidade de vingança, no fundo, anseia pelo objeto do seu ódio.
3.Por fim, a depressão e a ansiedade podem bater em sua porta. Principalmente se os objetivos de sua vingança estiverem indisponíveis. A não realização dos seus intentos pode trazer sentimentos de impotência, de humilhação, de injustiça, de fracasso e de incapacitação, alimentados constantemente pelos pensamentos corrosivos.
Em outras palavras, torna-se uma história sem fim, que consome enorme energia psíquica e que paralisa para o novo. A vingança é um sentimento aprisionador, alimentado muitas vezes por uma personalidade rancorosa e ressentida e que cobra constantemente uma atitude: a retaliação, que é muito diferente da reparação. Retaliação à alguém, que muitas vezes mal pensa em você, ou pior, sequer dá importância ao fato em si. A pessoa que almeja vingança está em sofrimento e a outra parte não. É interessante notar que, o sentimento de vingar-se tem sempre a finalidade de responsabilizar o outro pelo nosso sofrimento, seja ele verdadeiro ou não.
Mas, como lidar com isso?
O mais importante é entender que perdoar não é esquecer, nem desmerecer sua própria dor. Perdoar é combinar consigo mesmo que você parará de sofrer com o que já aconteceu e continuará a levar a vida adiante.
A reparação é uma possibilidade de cura, ou de amenizar a dor. Por exemplo, nada trará de volta um filho perdido num crime. Mas, saber que a pessoa que causou a perda será levada a julgamento e ser preso, ajuda a superar esse difícil momento. Em outras palavras, a reparação ajuda na reconstrução psíquica da pessoa e esta, a levar a sua vida adiante. Diferentemente da vingança que te aprisiona no luto da perda, da morte ou do rancor. Vingança não é justiça. E o mundo, nem sempre é justo. Mas, mesmo assim, devemos procurar retribuições simbólicas e encaminhar a reação para uma busca desde intento. Entender esse paradoxo requer discernimento e amadurecimento. É um trabalho de autoconhecimento e profundo que deve ser acompanhado por um psicoterapeuta.
H W Longfellow disse: “se pudéssemos ler a história secreta dos nossos inimigos, descobriríamos na vida de cada homem, mágoa e sofrimento suficiente para desarmar qualquer tipo de hostilidade”. Reconstrua a imagem de quem o agrediu. Na grande maioria dos casos, ajudará a perceber que o tamanho da situação que habita o seu coração e a sua mente, é maior do que de fato o é.
Pela abordagem da Psicologia Comportamental Cognitivista, a TCC, é importante identificar e evitar comportamentos antigos e indesejáveis que geram desprazer e alimentam o sentimento de vingança. Junto com o seu terapeuta você encontrará uma estratégia eficaz para alcançar o bem-estar e a melhora. Combatem-se os “comportamentos problemas”, ao mesmo tempo, se busca instalar ou aumentar a frequência de comportamentos adequados ao contexto, que sejam funcionais, geradores de satisfação e felicidade.
Finalizando. Feche algumas portas. Não por orgulho, muito menos pelo sentimento de derrota. Feche-as porque já não levam a lugar algum. Deixe o passado para trás e faça novos planos que reconstruam seu presente e o seu futuro. Esse é o caminho para a cura.
Marque uma consulta, terei o maior prazer em ouví-lo (a) e esclarecer as dúvidas pertinentes ao seu processo de cura terapeutica.
MSc. Estela Noronha
Psicóloga Clínica
CRP: 06/52562-9